"No momento em que você tiver em seu coração essa coisa extraordinária chamada amor e sentir a profundidade, o deleite, o êxtase disso, descobrirá que para você o mundo se transforma." (J. Krishnamurti)
Ser pais de um adolescente de 17 anos é uma verdadeira aventura e um teste diário às nossas competências relacionais, nomeadamente a capacidade de negociação, de resolução de conflitos, de ter uma comunicação assertiva, de estabelecimento de limites e ao mesmo tempo, de escutar ativamente e conseguir decifrar mensagens enigmáticas e que muitas vezes se resumem a um “sim… não” ou um revirar os olhos ou um encolher os ombros.
Até que chega o dia em que o nosso adolescente chega a casa e diz: “mãe, estou tão apaixonado! Desta vez acho que é mesmo a sério... nunca me senti assim…” e tudo ganha outra perspetiva, a palete emocional adquire novas tonalidades e intensidades, surgem novas preocupações e que implicam, mais uma vez, uma enorme capacidade relacional da nossa parte enquanto pais.
Sabemos que a adolescência é um período de exploração, oportunidade e de aprendizagem, em que surgem novas emoções como a paixão ou a atração, associadas muitas vezes a mudanças de humor, necessidades e desejos diferentes. Através destes relacionamentos amorosos, os adolescentes crescem e desenvolvem uma série de competências à medida que aprendem sobre si próprios, sobre a sua identidade e sobre os outros. Os relacionamentos aumentam a sua autoestima, promovem a independência em relação aos pais, proporcionam uma oportunidade para aprender a gerir emoções intensas, a negociar conflitos, a comunicar necessidades e a responder às necessidades de um parceiro e proporcionam (no caso de relações saudáveis) um ambiente seguro para viver a sua sexualidade.
Por outro lado, uma parentalidade plena e positiva, redes de amizade fortes e uma educação sexual orientada para o ensino das características de relacionamentos românticos saudáveis, o reconhecimento de estereótipos baseados no género, na melhoria das competências de gestão de conflitos e de comunicação e na diminuição da aceitação da violência entre parceiros, podem desempenhar um papel protetor e ajudar os adolescentes a desfrutar das suas experiências românticas e a aprender com elas.
Dicas para falar de relacionamentos amorosos saudáveis com os jovens 1) Reflita sobre os seus valores.
Antes de conversar com o seu filho, reflita sobre os valores em que acredita e que defende, nomeadamente sobre os relacionamentos: honestidade, respeito, confiança, empatia, responsabilidade, partilha.
Reflita se o seu filho conhece e compreende os seus valores e como vocês, pais, se sentem em relação a esses valores. Pense se o seu filho sabe exatamente o que vocês esperam dele nas diferentes áreas.
2) Incentive o seu filho a partilhar o que pensa e sente.
Analise as suas crenças e valores sobre temas como: amizades, namoro, sexualidade, limites, consentimento, partilha ou privacidade. Faça perguntas abertas, escute ativamente sobre os valores que partilham e o que vos diferencia.
Partilhe também como se sente em relação a esses mesmos valores e como podem resolver as diferenças.
3) Seja honesto e aberto.
Promova um diálogo honesto e aberto, em que o adolescente sinta que pode falar de tudo e que será ouvido e respeitado.
Fale sobre aspetos ligados à sexualidade (com uma linguagem simples, adequada à idade e ao grau de maturidade), dando especial ênfase aos afetos, ao que é um relacionamento saudável, o que significa consentimento e limites.
Responda às perguntas de forma clara e de preferência na hora. Se não souber, sugira que descubram em conjunto as respostas, ajudando a procurar informação credível. Forneça recursos, como livros, sites fidedignos onde o jovem possa obter informação correta. Veja os recursos que sugerimos no final do artigo.
4) Ensine a tomar decisões responsáveis.
Coloque vários cenários e discuta, sem julgamento ou ameaças, as escolhas e os prós e contras das experiências. Transmita-lhes confiança na sua capacidade de tomar decisões, analisando as consequências e o impacto em si e nos outros.
Isto inclui a questão das redes sociais. As emoções intensas podem levar os adolescentes a comportamentos imprudentes nas redes sociais. Lembre que mensagens, fotos e publicações nunca mais desaparecem.
Analisem as escolhas e decisões que promovem relacionamentos saudáveis.
Seja um modelo de escolhas e relações positivas.
5) Incentive a flexibilidade de papéis e comportamentos de género.
Os adolescentes estão sob considerável pressão para se adaptarem às expectativas dos seus pares (e por vezes da família) sobre o que os rapazes e as raparigas "devem e não devem" fazer. Estimule a flexibilidade de papéis, ensine a resistir à pressão social e a adotar comportamentos que vão ao encontro dos seus valores e não ao que é suposto fazer por ser rapaz ou rapariga.
Desmistifique estereótipos e mitos.
6) Tolerância zero à linguagem abusiva ou inadequada.
Hoje tornou-se quase aceitável na cultura adolescente o uso de uma linguagem abusiva e violenta entre pares. Isto acaba por se refletir também nas relações amorosas, fazendo com que os jovens aceitem como “normal” ser insultado ou humilhado pelo parceiro (veja os dados do relatório da UMAR 2023, sobre a violência no namoro).
Ensine e fale sobre limites, promova a capacidade para dizer não.
Seja, mais uma vez, um modelo de uma comunicação não violenta.
7) Normalize as experiências.
Normalize as situações que possam surgir ao longo das relações, como frustrações, desentendimentos e até mesmo possíveis ruturas, ajudado o jovem a enquadrar as suas expectativas e experiências no contexto.
Incentive a manter os vínculos com família, amigos e grupos de colegas, ou até mesmo a continuar com os seus hobbies, para além do namoro. Mostre que entende que o namoro ganhou um maior ênfase, mas que é importante manter as outras áreas da sua vida e que servem como fatores protetores face aos desafios que possam surgir.
8) Respeite o tempo e espaço.
Aproveite o que aparece na televisão, nas notícias, filmes, anúncios, música ou até mesmo no círculo de amigos, para abordar certos temas, valores ou crenças associadas.
No entanto, respeite o espaço e privacidade do jovem, evitando ser demasiado invasivo ou estar sempre a falar do mesmo assunto.
9) Promova a aceitação da diversidade.
Estimule a capacidade de aceitação de padrões, comportamentos ou até valores diferentes dos seus. Combata o preconceito, o estigma e a discriminação.
Seja um modelo, estando atento à sua linguagem (verbal e não verbal), aos comentários que faz quando vê algo na televisão ou na rua e promova o diálogo sobre as diferenças.
10) Respeite os seus sentimentos e mostre amor incondicional.
Mostre que valoriza e respeita os seus sentimentos, preocupações e ideias, mesmo quando não concorda totalmente com algum aspeto.
Mostre que, pode haver momentos em que não concordará com as suas escolhas, mas que irá sempre apoiá-lo e amá-lo incondicionalmente.
Quando olhamos para trás, como adultos, há muitas lições sobre relacionamento que teriam facilitado a vida enquanto adolescente (e em muitos casos, ainda no presente) se tivéssemos conversado sobre isso com um adulto de confiança.
Um modelo parental positivo baseado em relações de respeito, estabelece um padrão que os jovens acabam por procurar nas suas próprias interações.
Boas conversas!
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