"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor. Se um elefante tem o pé na cauda de um rato e você diz que é neutro, o rato não apreciará sua neutralidade." (Desmond Tutu)
No dia 20 de outubro assinala-se mais um Dia Mundial de Combate ao Bullying.
O bullying é um comportamento que acontece em contexto escolar, agressivo e intencional, que se repete e envolve um desequilíbrio de poder social ou físico. Como o bullying está diretamente relacionado com as reações sociais, é um fenómeno que afeta todos participantes envolvidos: a criança que sofre bullying (vítima), a criança que faz bullying (agressor) e os espectadores.
O bullying é um problema generalizado nas escolas e sabe-se que 1 em cada 3 crianças no mundo é, ou foi, vítima de bullying. No entanto, o ensino de competências socioemocionais foi considerado um fator importante na prevenção eficaz do bullying.
Estudos mostram que estas competências ajudam a proteger os alunos de se tornarem alvos de bullying, mas também podem diminuir o risco de alguém intimidar os outros, pois através de abordagens de aprendizagem socioemocional, os alunos podem aprender a desenvolver a empatia e a resolver melhor os conflitos, assim como desenvolver a autoconsciência, a regulação emocional e a tomada de decisão responsável, que podem impedir que os alunos se envolvam em situações de bullying e que se tornem cidadãos socialmente competentes no ambiente escolar, ajudando ainda a construir um clima geral positivo dentro e fora da escola(1).
A dificuldade em identificar as emoções em si e nos outros, pode colocar as crianças e jovens, em situação e maior risco de bullying (enquanto vítimas e agressores), pois não conseguem identificar as pistas emocionais que o outro dá, o que pode levar a uma maior dificuldade em interpretar os comportamentos e em agir de forma adequada.
A gestão ou autorregulação emocional é a capacidade de monitorizar e regular emoções fortes e de acalmar ou controlar essas mesmas emoções e o comportamento. Uma boa capacidade de regular as emoções pode evitar que as crianças se tornem vítimas de bullying, mas também ajuda a responder de uma forma mais eficaz. Por outro lado, os agressores são normalmente crianças ou jovens com maior dificuldade no autocontrolo, pelo que a aprendizagem destas competências é extremamente importante também para quem pratica bullying.
Para lidar eficazmente com os conflitos, as crianças precisam de ser capazes de reconhecer quando estão a ficar zangadas e aprender a acalmar-se antes de reagir. As crianças que frequentemente intimidam os outros tendem a ter dificuldade em controlar a raiva e a atacar agressivamente. Bosworth, Espelage e Simon (1999)(2) descobriram que as crianças mais irritadas são as mais propensas a intimidar outras pessoas. As crianças relatam que a necessidade de aliviar o stresse e terem um dia mau são as principais razões pelas quais intimidam os outros (Swearer & Cary, 2007)(3).
Por outro lado, estudantes que expressam níveis mais elevados de tristeza e instabilidade emocional têm maior probabilidade de sofrer bullying (Analitis et al., 2009)(4).
A resolução de problemas sociais implica a capacidade de lidar com os problemas e desafios sociais, de forma eficaz. As crianças que são boas a solucionarem problemas sociais podem reconhecer um problema, refletir sobre possíveis soluções e entender as consequências de uma determinada ação. É óbvio, então, que essa competência seja importante para gerir os desafios dos colegas e responder de maneira ponderada e adequada.
Por sua vez, as crianças vitimizadas tendem a ter menos amigos, a ter apenas amigos que também são vitimizados. Muitas são socialmente retraídas e com baixos níveis de confiança e poucas habilidades para interagir eficazmente com os pares (Pelligrini, 2002)(5). Intervenções que ajudam estas crianças a aprender como comunicar positivamente com os seus pares (por exemplo, fazer perguntas, mostrar apoio, fazer sugestões) pode ajudá-las a serem mais aceites pelos colegas, menos propensas a serem intimidadas e mais propensas a serem ajudadas por colegas se forem alvo de um agressor.
A falta de consciência social pode levar as crianças a agir de forma mais hostil e agressiva em situações sociais, incluindo intimidar outros alunos. No caso da empatia, é fundamental ensinar as crianças a colocar-se no lugar do outro, a analisar a realidade em perspetiva, como forma de prevenção do bullying e permitindo que os alunos consigam oferecer apoio aos outros, tornando essas habilidades cruciais para ajudar os “espectadores” a posicionarem-se contra o bullying e a agirem de uma forma mais ativa e positiva.
As expectativas sobre como os funcionários e os alunos se tratam uns aos outros devem estar claramente refletidas nas políticas escolares, e as regras para a interação em sala de aula devem ser consistentemente modeladas por adultos, aplicadas e reforçadas em todos os ambientes escolares.
Quando os profissionais da escola chegam a um consenso sobre o que é o bullying e concordam em intervir para o prevenir e reduzir, as taxas de bullying podem cair significativamente (Wright, 2004)(6). Para ajudar a estabelecer o clima moral da escola, é necessário desenvolver regras para toda a escola que proíbam o bullying, tendo os alunos como parte do processo.
Prevenir o bullying na escola:
- A escola deve definir claramente e afixar as regras de tolerância zero ao bullying;
- Os adultos na escola devem modelar um comportamento respeitoso e atencioso com os alunos e entre si, e demonstrar habilidades de resolução de problemas sociais. Por exemplo, o diretor que almoça com um pequeno grupo de alunos uma vez por semana demonstra atenção e respeito pelos alunos (e também promove a coesão entre os alunos).
- Os adultos também devem modelar o comportamento ativo dos espectadores, intervindo rapidamente quando ocorrem incidentes de bullying em vez de negar ou desvalorizar o bullying.
-Criar oportunidades para os alunos interagirem uns com os outros de forma cooperativa, positiva e inclusiva pode ajudar a gerar coesão e compaixão entre os alunos e incentivá-los a aplicar as competências SEL. Nos momentos em que a supervisão de um adulto está menos disponível, como durante o recreio, os comportamentos problemáticos pode ser reduzido dando-lhes acesso a uma variedade de jogos e equipamentos desportivos .
- Atividades e discussões em sala de aula que ajudem a mudar a visão dos alunos sobre o bullying podem representar uma estratégia importante para reduzir o bullying.
- Os professores devem modelar comportamentos inclusivos, fazendo um esforço especial para chegar aos alunos rejeitados e retraídos pelos pares e para incentivar os alunos a serem inclusivos com os seus pares.
- Os professores devem trabalhar para promover comunidades de aprendizagem solidárias através de estratégias como reuniões de turma, celebrações em grupo e trabalho cooperativo em grupo
- Ajudar as crianças a pensar sobre as consequências dos seus comportamentos de bullying nos outros e nas suas próprias relações. Os alunos precisam de oportunidades para praticar as suas habilidades SEL, encenando como responder adequadamente em situações de bullying. Os professores podem discutir com os alunos como os espectadores devem agir e depois praticar essas ações em atividades de role-play.
- Dar às crianças oportunidades de praticar comportamentos de ajuda eficazes pode ajudá-las a desenvolver a confiança necessária para intervir em situações de bullying, uma vez que é mais provável que o façam depois de o terem praticado com sucesso, mesmo numa dramatização.
O bullying é um problema generalizado em muitas escolas. Infelizmente, muitas tentativas de reduzir o problema – tais como envolver os agressores e as vítimas na mediação entre pares, punir os agressores, dizer às crianças vitimizadas para ignorarem o bullying ou para resolverem as coisas por si próprias (Merrell et al., 2008)7 – não são eficazes e é pouco provável que tenham um impacto duradouro.
No entanto, as escolas podem tomar medidas específicas para melhorar o clima escolar e criar interações mais positivas entre os alunos. Quando as escolas incorporam esforços de prevenção do bullying num quadro de aprendizagem socioemocional, esses esforços tornam-se uma extensão natural das práticas SEL subjacentes na escola e têm maior probabilidade de sucesso.
Num clima geral de inclusão, cordialidade e respeito, as escolas podem promover o desenvolvimento de competências sociais e emocionais fundamentais tanto nos alunos como no pessoal. Alunos com maior competência social e emocional têm menos probabilidade de serem agressores, alvos de bullying ou espectadores passivos.
O Bullying não é apenas um problema da escola. Todos somos agentes de prevenção e promoção de comportamentos mais saudáveis e positivos em meio escolar.
No Universo das Emoções temos vários programas e recursos disponíveios para ajudar a promover estas competências.
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Referências:
(1) Farrington, D; Ttofi, M; Zych, I. “Protective factors against bullying and cyberbullying: A systematic review of meta-analyses”, Aggression and Violent Behavior, Volume 45, March-April 2019, Pages 4-19.
(2) Bosworth, K., Espelage, D. L., & Simon, T. R. (1999). Factors associated with bullying behavior in middle school students. Journal of Early Adolescence, 19(3), 341–362
(3) Swearer, S. M., & Cary, P. T. (2007). Perceptions and attitudes toward bullying in middle school youth: A developmental examination across the bullying continuum. In J. E. Zins, M. J. Elias, & C. A. Maher (Eds.), Bullying, victimization, and peer harassment (pp. 67–83). New York: Haworth Press.
(4) Analitis, F., Velderman, M. K., Ravens-Sieberer, U., Detmar, S., Erhart, M., Herman, M., Berra, S., Alonso, J., Rajmil, L., & the European Kidscreen Group. (2009). Being bullied: Associated factors in children and adolescents 8 to 18 years old in 11 European countries. Pediatrics, 123(2), 569–577.
(5)Pelligrini, A. D. (2002). Bullying, victimization and sexual harassment during the transition to middle school. Educational Psychologist, 37(3), 151–163.
(6) Wright, J. (2004). Preventing classroom bullying: What teachers can do. Retrieved October 26, 2009, from http://www.interventioncentral.org
(7) Merrell, K. W., Gueldner, B. A., Ross, S. W., & Isava, D. M. (2008). How effective are school bullying intervention programs? A meta-analysis of intervention research. School Psychology Quarterly, 23(1), 26–42.